quinta-feira, 27 de maio de 2010


História do Brasil colonial - mais uma mentira marxista refutada.



Jorge Caldeira
Doutor em Sociologia, Historiador, Escritor, Jornalista.


Apresentação do autor.
Jorge Caldeira revira documentos e dados para reescrever a história do Brasil, em especial ele confronta Caio Prado, um historiador marxista, e mostra com provas que o que ele afirmou sobre a história da colônia brasileira - não é verdade.

Seu livro mais recente contraria a visão tradicional sobre as origens da economia colonial brasileira apresentada como produto do latifúndio agrário-exportador por Caio Prado e outros historiadores marxistas.
Jorge Caldeira conta como os empreendedores da época criaram uma economia dinâmica e produtiva, maior que a de Portugal do mesmo período.



Jorge Caldeira defende a tese de que o Brasil colonial já era movido pelo empreendedorismo
As figuras do povo manemolente e de uma economia voltada apenas à monocultura e à exportação na época do Brasil Colônia são contraditadas pelo escritor e jornalista Jorge Caldeira.
Para comprovar a dinâmica de uma sociedade pouco conhecida, nos últimos anos Caldeira jogou luz sobre personagens quase incógnitos como Visconde de Mauá, considerado o maior empresário da época do Império, e Guilherme Pompeu de Almeida, um padre que deixou a batina para fazer fortuna financiando o ciclo da mineração no século 17.

Em seu mais novo livro, História do Brasil com Empreendedores (Mameluco, 2009), Caldeira afirma que, na época da colônia, o mercado doméstico brasileiro gerava mais riquezas do que as atividades exportadoras dos latifúndios e que o segredo desse dinamismo estava nos pequenos empreendedores.



Vamos apresenbtar a seguir uma entrevista que o autor deu e onde teremos uma idéia da grande importância histórica de seu trabalho.
Nessa entrevista poderemos tomar conhecimento do enorme malefício que o marxismo trouxe ao estudo da História do Brasil colonial.
A historiofrafia brasileira da época colonial, tem como base uma mentira ideológica.




Entrevista feita por Geraldo Samor, do Podcast Rio Bravo, com o autor do livro “História do Brasil com Empreendedores”, Jorge Caldeira

Jorge, o título do seu livro me faz lembrar aquela época no regime soviético em que os desafetos do regime eram apagados das fotos. O empreendedor brasileiro foi expurgado dos livros de história ao logo do tempo?

Olha, em alguma medida, é verdadeiro que a cultura brasileira é uma cultura que não reconhece o papel do empreendedor. Esse livro, “História do Brasil com Empreendedores”, trata basicamente do período colonial – portanto, do período anterior ao capitalismo -, um período que o Marx chama de acumulação primitiva, onde a economia era mercantilista, mas aonde a figura do empreendedor era essencial. E essencial para entender o que é o Brasil, pra gente pensar o que é o Brasil. Então, não é só uma questão de economia, mas é uma questão de como pensamos em nós mesmos. E as duas coisas estão muito interligadas, porque o livro trata de um aspecto que é um conjunto de dados que economistas, que fazem história econômica com métodos quantitativos em geral, foram reunindo ao longo dos últimos setenta anos que mostram as seguintes tendências: primeiro lugar, a economia da colônia Brasil entre 1500 e 1822 cresceu num ritmo maior do que a economia da metrópole Portugal. A economia mercantil do Brasil era nada em 1500, e era bem maior do que a de Portugal – ainda há discussões sobre números precisos -, mas há certeza absoluta de que era maior em 1800.

Num regime de monopólio comercial entre metrópole e colônia, só tem um jeito do crescimento da economia da colônia ser maior do que o da metrópole, que é: os setores não exportadores, na relação com a metrópole, serem mais dinâmicos e terem taxas de crescimento maiores do que aqueles que ligam a colônia à metrópole via exportação.
Isso, eu acho que nenhum historiador econômico hoje discorda desta primeira característica.
A segunda característica, que é quantitativa, medida, e que eu também acho que é senso comum entre os historiadores de economia hoje, é a de que a pequena unidade produtiva – não necessariamente propriedade, porque havia gente que tinha pequenas rochas em propriedade alheia, mas isso era reconhecido – era a forma dominante de produção econômica e a forma dominante no mercado interno.
Quantitativamente, como que é isso?
Por volta de 1800, 62% a 70% da população…

Dependendo se você considerar os índios uma população livre, e obviamente eles eram assim considerados na época e eu acho que é correto, pois faziam parte da economia brasileira…
Então, 70% da população total, era população livre.
Esta população livre tinha um conjunto muito grande de unidades produtivas, basicamente era uma coisa quase familiar – a dimensão de um negócio típico de 1800, era uma dimensão familiar.
Então, o grosso da população brasileira dedicava-se a pequenas explorações sem escravo e, entre 2/3 e ¾, todas as unidades produtivas eram unidades produtivas familiares sem escravos.
Ou seja, a produção brasileira básica de 1800 era desta gente.
Todos, ou praticamente todos, empreendedores que dominavam, tinham seus meios de produção – no jargão marxista -, e eram, portanto, trabalhadores livres – no sentido marxista -, que produziam, dominavam o circuito da sua produção e recebiam, como lucro, com a venda da sua produção.
Então, isto é a imensa maioria da população em 1800.

Eram empreendedores principalmente agrícolas?

De todos os tipos: agrícolas, de transportes, com tropas, de artesanatos, de várias profissões…
As unidades não eram muito maiores do que uma família, então, tudo que a família conseguia fazer, em geral, entrava na produção e era um pouco de tudo – era pouco especializado.

Mas esta era a base produtiva da colônia, a base da dinâmica da economia colonial.
Segundo lugar: alguma coisa como 1/3 das unidades produtivas tinham escravos, só que, na imensa maioria dessas unidades, eram de cinco escravos para menos.
A média de escravos por proprietários na economia colonial era de cinco.
O que quer dizer que, ao lado da família ou do empreendedor que produziam sem escravos, tinha o que tinha: um ou dois escravos e uma unidade econômica pequena.
Isso chega a 90% do total das unidades produtivas e é nessas unidades – basicamente, empreendedoras – que estava a dinâmica toda da economia colonial.

E era uma dinâmica mercantil.
Não era capitalista, no sentido que você não tinha trabalho assalariado,
mas era mercantil; era produção para o mercado.

Todas essas unidades produziam para o mercado – em grau maior ou menor – e esta produção somada é que dava a dinâmica imensa da economia colonial brasileira.
Não era o setor exportador.

Você tinha também toda a acumulação de capital dentro desse circuito.
A acumulação ia do índio que trocava o machado de ferro por algodão, ou o que seja, até a economia monetizada.
Tudo era troca de mercadorias.
Então, você tem uma economia mercantil ativa e é aí que está a dinâmica real da economia colonial.
E você tinha grande propriedade com muito escravo em lugares muito limitados, e algumas ligadas ao setor exportador.
Outras, não necessariamente.
Tinha muita coisa ligada ao transporte, porque tinha grande escravidão em algumas unidades mineradoras – que não exportavam ouro, mas o produziam para virar moeda da economia colonial.

Então, isto é o retrato de uma dinâmica econômica baseada numa figura que era o empreendedor, aquele que veio para a América para enriquecer, e não, um membro da sociedade feudal, porque estamos falando de um período em que a Europa era feudal, onde as pessoas morriam na posição social em que nasciam.
E esse, que vinha de fora, se juntava a outro igualmente empreendedor que era, basicamente, o índio que deixava de lado sua cultura local para se associar via casamento ou via aliança com esse que chegava de fora.
Os dois juntos, com o sentido empreendedor: você aceitar o de fora é você aceitar novidade na vida, aceitar crescer, subir na vida.

Este encontro propiciou um Brasil empreendedor.
Isso é o primeiro cenário do livro, que é o cenário que trata de economia.

O segundo ponto que o livro trata é: as interpretações que nós brasileiros fazemos de nós mesmos.
Nós nos interpretamos de um modo soviético.
De uma realidade econômica que é dinâmica e empreendedora, nós recortamos fora essa figura, por algum processo.
Que processo é esse?
Aí, eu estudo interpretações do Brasil que foram criadas durante o século XIX e século XX.
Eu paro tudo em uma interpretação criada no século XX pelo Caio Prado Júnior, que é considerado o fundador da interpretação marxista de história do Brasil, e que basicamente diz o seguinte:
o primeiro é um livro que se chama “Evolução política do Brasil”, onde ele diz que o atraso central do Brasil se deve ao fato de ter sido uma sociedade organizada em latifúndios de grande produção – onde o trabalho escravo era central -, e aonde a produção para o mercado ainda era marginal.
O mercado interno ainda existia e era marginal.
E, num segundo livro, chamado “Formação do Brasil Contemporâneo”, que é de 1942, ele introduz um acréscimo a ideia do latifúndio, transformando no latifúndio o agrário exportador e um conceito de sentido da colonização que, além de latifundiária, a produção era organizada para fornecer mercadorias baratas para o mercado externo – o que deixava o mercado interno marginal, que nunca se desenvolveu.
E o atraso posterior ao período colonial se deve à herança colonial que teria sido, esta, de uma organização latifundiária da produção.

Como você pode ver, essa é uma interrelação que confronta os dados de conhecimentos atuais.
Quando ela foi feita, em 1933, não existiam esses dados de pesquisas que eu dei, de pequena propriedade, tamanho, volume, capacidade de produção, o PIB do Brasil…
Nada disso era conhecido.
Mas a hipótese pegou.
E a interpretação é vigente.
Hoje, é quase a língua oficial; é como nós entendemos a história da colônia.
A ideia de que a herança colonial transformou o brasileiro num povo menos empreendedor.


[Obs. Ou seja, o historiador marxista inventou uma mentira, sem base real, sem provas, mas, essa mentira pegou, e hoje a história do Brasil colonial é baseada em uma mentira marxista.]

Não só isso, como que o mercado externo e a escravidão eram os fundamentos, e não o trabalho do empreendedor e a economia livre – mercantil, ainda, mas livre.

Você descreveu o europeu que veio para o Brasil como um empreendedor.
Ele e o índio, juntos, formaram essa cultura de empreendedorismo.
Mas, em que medida, também, havia muitos europeus no Brasil que vieram para cá em busca de um cartório?

Como se pode definir de maneira mais ampla o que é o empreendedor?
É alguém que quer, durante a sua vida, construir algo que seja seu próprio destino.
Quer dizer, ele não se conforma com o destino de nascimento e constrói algo melhor para si mesmo, constrói seu próprio destino,
[Obs. É o contrário do socialista que espera que o estado resolva os problemas da vida dele.] construindo uma obra que, em geral, gera uma posição melhor, gera enriquecimento – que seja do espírito ou material.

Esse é o conceito amplo de empreendedor.
Em 1500, para qualquer pessoa que saía da sociedade feudal e vinha fazer a vida em outro lugar, estava empreendendo.
Comparada à época medieval – onde não existia cartório, aliás -, você mudar de vida era muita coisa.
Você veio recomeçar e veio fazer alguma coisa para enriquecer.
Do mesmo modo, isso vale igualmente para os índios que aceitavam a chegada dessa outra pessoa; está mudando o seu destino tradicional e trocando por um destino que vai ser construído naquele momento que eu estou vivendo por uma aliança.

Então, é isto que dá dinâmica para a economia brasileira até hoje.
O importante disso é perceber que isso não é só uma questão de ideias.
É o PIB, a composição da economia, a economia real, o existente, imensurável.

O livro estabelece uma relação entre a produção intelectual do Caio Prado Júnior, um dos grandes historiadores brasileiros, morto em 1990, e o de Oliveira Vianna, um historiador conservador.
Que semelhanças são essas e por quê elas são importantes do ponto de vista histórico?

O que é real é empreendedor, pequena propriedade e uma grande mercantilização da economia, se comparada à de Portugal.
Isto é ao contrário da percepção que latifúndio, classe dominante, escravidão e desigualdade social…
O ponto, aí, que eu analiso é: de onde veio essa ideia?
São ideias dominantes sobre o passado que não têm nada a ver com a realidade conhecida hoje.

Então, a primeira ideia dominante no passado, mais conhecida, é essa vertente do Caio Prado que atribui esta ideia, que atribui a latifúndio, que diz o seguinte: isso é uma análise marxista da história; o conhecimento de Marx gerou esta interpretação.
Isso diz o Caio Prado, de si mesmo, e assim ele é reconhecido.
Como essa interpretação não batia com a realidade, pensei: “Espera aí, o Marx não tem um pensamento que gere esse tipo de coisa”.

[Obs. Marx não tem, mas, o marxismo cultural tem, Caio Prado era um membro do marxismo cultural criador de mentiras, Caio Prado começou a escrever justamente quando o marxismo cultural começou a divulgar suas teorias mentirosas (1933).]

Então, fui lá ver o que o Caio Prado conhecia de Marx.
Quase nada, quando escreveu o primeiro livro. Mas então, como que ele inventou uma interpretação do Brasil?
Nasceu sabendo?
Foi uma intuição genial?
Aí, fui ver com quem que ele tinha estudado e ele, na verdade, o Caio Prado foi discípulo do Oliveira Vianna, que é um pensador conservador.
“Conservador” no sentido claro do conservadorismo do império: alguém que pensa que o Estado está acima da sociedade; que a sociedade, no Brasil, não tem forma; que tudo que acontece de civilizado no Brasil, foi o Estado que fez.
Este senhor, Oliveira Vianna, em 1922, escreveu um livro chamado “Evolução do povo brasileiro”.
Desse livro – que existe em dois capítulos separados – vem dele a ideia de que o senhor local, que é o inimigo do Estado central, é o problema do Brasil.
Porque ele é o coronel, o mandão, o latifundiário.
Ele criou a figura do latifundiário como a explicação do Brasil, durante a República Velha, para dizer que o federalismo, o empreendedorismo, liberdade de capitais – que eram os perigos da República Velha – eram não as razões do progresso do Brasil, mas as fontes do atraso do Brasil.

Esse discurso do Oliveira Vianna foi, senão copiado, mas apropriado pelo Caio Prado Júnior quase na íntegra.
No meu livro tenho um capítulo de dez páginas que são cinco páginas de parágrafos do Oliveira Vianna, de “Evolução do povo brasileiro”, cinco páginas de parágrafos de “Evolução política do Brasil”.
Um posto do lado do outro para ver que a argumentação é essencialmente semelhante num grau muito alto.
O Caio Prado já tinha citado Oliveira Vianna antes, e etc.
Não é só o marxismo que tem a ideia de que o passado é latifundiário: o pensamento conservador brasileiro [também tem].
E aí, a ideologia econômica conservadora brasileira, que é uma ideologia econômica de restrição monetária, de viver em um padrão ouro, não deixar manter o controle da vida financeira no Estado ao modo do antigo regime.
Esse aí é o ponto central.

[Obs. Em síntese, uma economia não baseada no Liberalismo (capitalismo).]

Eu vou ao Oliveira Vianna, percorro desde o século XVIII, ao chamado pensamento corporativo.
Que a metáfora desse pensamento central é: a sociedade tem uma cabeça, que é o Estado, e a sociedade é um corpo que cumpre as ordens do Estado; tudo que é inteligente, vivo, humano, bom, da sociedade, está no Estado e o resto é resto, para cumprir ordens do Estado e obedecer aquilo que emana da cabeça.
Esta metáfora é a base do pensamento corporativa e é a base do pensamento do Oliveira Vianna.
É desta herança que o Caio Prado extraiu suas ideias.

Essa herança é antigo regime, é Aristóteles.
A ideia de que o poder é sagrado, de que o poder está acima da sociedade não tem nada a ver com o poder do governo.
Esta mistura entre pensamento conservador e marxismo que é interpretação corrente do passado brasileiro hoje.
E esse livro ataca de frente isto, porque não corresponde a fatos observáveis; isto é uma ficção ideológica, seja na sua vertente conservadora, seja na sua vertente marxista.


E é disso que o livro trata.
Primeiro, mostrar como era economia. Segundo, por quê que essa interpretação que não tem nada a ver com os fatos é tão dominante e por quê que isso é feito.

Aí, tem a parte final do livro que é analisar qual eram as articulações na sociedade brasileira, na sua base, que faziam uma economia mercantil empreendedora pujante.
E aí, eu começo das sociedades nativas que participavam da economia, participavam do sistema de troca, até passando pelos sertanejos populares e muito esquecidos daquela época que faziam tudo por fiado.
Quer dizer, as pequenas unidades produtivas como o poceiro, o agregado, os pequenos todos, se financiavam por fiado.

[Obs. No interior do Estado de São Paulo isso era conhecido como "meieiro", cultivar a tera "de ameia".]

Ou seja, era uma economia de trocas mercantis, mas não de circulação de moeda.
Tinha muito mais troca mercantil do que circulação de moeda, mesmo depois da presença do ouro na economia local.
E com a presença do ouro, a partir de 1700, isso se ampliou.
Aí sim, ele já era quase empresário porque o empreendedor, em geral, não tem capital nenhum; seu capital é o seu trabalho.

A partir do século XVIII você já tem muito empresário que mistura a posse de capital com o trabalho de empreender, que faz atividades de maior porte.
Então, é basicamente esse o escopo do livro.

Mesmo assim, o brasileiro sendo majoritariamente empreendedor, o espírito de cada tempo afeta a propensão a empreender, não?
Por exemplo, hoje, tem muita gente estudando para passar em concurso público porque um cargo no Estado ainda é visto como estabilidade.
Estas pessoas querem estar estáveis mesmo em uma economia que muda a cada cinco anos, com a tecnologia e tudo.
O futuro pertence a esses que empreendem ou a esses que querem se juntar às tecnocracias?

Acho que hoje a gente precisa começar a discutir esses dois objetivos.
A ideia desse livro – não é aplicado a ele, porque o livro só trata de economia colonial…
Mas, claramente, um entendimento novo do passado permite entender de um modo novo também os problemas atuais.
Eu diria que a propensão a concurso público é protegida se você concorda com a ideologia de que o Estado está acima dos outros, então, ele arregimenta em condições melhores e dando privilégios porque ele está acima dos outros.
Na versão conservadora ou na versão “de esquina”, porque só o Estado produz igualdade.
Se não tiver isso, ele só tem desigualdade.


A condição natural do capitalismo é fazer desigualdade.
Essas duas coisas precisam ser mudadas, ser discutidas.
É assim mesmo?
É esta a proporção das coisas?

A sociedade brasileira de hoje tem 10% das pessoas formadas na universidade.
É uma sociedade que vai ser definida como uma sociedade de dependentes?
A população que está, finalmente, chegando perto dos 100% na escola é uma população incapaz de tomar decisões e reconhecer seus próprios interesses ou é uma população confiável?
E, finalmente, acima de tudo, uma questão política: o governo está acima da sociedade, como dizia a filosofia política do antigo regime, ou o governo é representação da sociedade?
O eleito recebeu um mandato que vem da sociedade e deve satisfações à ela; ele não passa a se fingir de rei ou populista.
Essa é a pergunta.

Não te parece um contra senso que, em uma economia que tem crescido muito e que tem gerado e distribuído renda, que ainda tenha tanta gente fascinada com o Estado como provedor de tudo?

Acho que é muito mais fascinante se você pensar o contrário.
Quer dizer, no começo dos anos 90 se dizia o seguinte: qualquer abertura da economia brasileira – dada o nosso baixo grau de educação, baixa capacidade do povo, etc. – ia levar a um desastre porque não teríamos condição de reagir à novas tecnologias e coisas do gênero.
Fez-se uma abertura imensa que foi saudada por todo mundo que comprou um celular, por todo mundo que aproveitou a condição da moeda e quem lida com informática é o pobre na lan house, não é a elite.
Quem tem mais Facebook e participação nas redes sociais?
Brasileiros pobres…
A ideia de que a gente não aguenta a globalização …ao contrário, o Brasil é uma nação globalizada por dentro.
São raras as pessoas no Brasil que têm a virtude de saber que causas como: estabilidade, abertura, competição real e exposição ao progresso, são causas que o brasileiro comum abraça com a maior tranqüilidade.
E quem apostava nessas coisas nos anos 90, viu um outro mundo acontecer com abertura e estabilidade.

O que a gente não entende é: de onde vêm esses valores?
De onde vem essa crença?
Porque as explicações sobre o Brasil conservadoras iam nesta vertente marxista, vindas pela ideia do latifúndio e o trabalho escravo são, amplamente majoritárias, da elite.
Mas não na realidade.



História revista
Luciana Pinsky
Fotos:Roberto Setton/Época


Jorge Caldeira abre polêmica sobre a economia do Brasil, da colônia aos tempos do Império

Festejado autor de Mauá: Empresário do Império, biografia editada em 1995 e já com 93 mil exemplares vendidos, está lançando seu quarto livro, A Nação Mercantilista, baseado numa tese de doutorado defendida na USP. Não se espere a fluidez de leitura que Mauá proporcionou:
A Nação Mercantilista é voltado para um público mais específico e pretende discutir por que o Brasil não se desenvolveu no século 19 ao ritmo dos três séculos anteriores.

[Obs. Caldeira foi no programa Rodaviva de 24/05/2010, e nele, em resposta a uma pergunta tendensiosa do condutor do programa, e marxista Heródoto, disse explicitamente - no Brasil jamais existiu Liberalismo (capitalismo no palavreado marxista).]

Jorge Caldeira vai causar polêmica. Ele contesta o peso que a historiografia brasileira tradicional atribui ao desenvolvimento dependente do capitalismo no país e prefere lançar luzes sobre a disputa de poder na elite brasileira, que teria excluído os negociantes e mercadores das decisões políticas.

Ao manter os empresários afastados do poder, o Brasil teria perpetuado um sistema fiscal arcaico que, para Caldeira, estaria na raiz do atraso brasileiro no Império (1822-1889).
Por ter afastado do poder a burguesia nascente, o país demorou a conhecer o capitalismo que vigorava na Europa e nos Estados Unidos desde o início do século 19.

[Obs. Na verdade nunca chegou a vigorar, pois no Brasil os impostos sempre foram exorbitantes, impedindo o pleno funcionamento do Liberalismo econômico.]


Esse atraso teria conseqüências desastrosas. Segundo o autor, a economia do Brasil colonial era semelhante à dos Estados Unidos em 1800.
Cem anos depois, a riqueza americana se tornara dez vezes maior que a brasileira.
Outro dado que chama a atenção no livro é a extrema relevância do mercado interno desde o século 17.
Para Caldeira, esse mercado cresceu até o início do século 19, quando chegou a representar 90% da economia da colônia.
A partir daí, entrou em curva descendente, empurrado pela política econômica.

Os números de Caldeira diferem consideravelmente dos apontados por outros estudiosos [Obs. Em sua maioria marxistas, que não estão interessados em dizer a verdade, mas sim, em transformar as mentiras do marxismo em verdades.], que dão ênfase maior ao caráter exportador do Brasil na era colonial.

O livro também destaca dados positivos da História brasileira, que, segundo Caldeira, costumam ser "esquecidos".
O Parlamento funcionou regularmente desde que foi instaurado, em 1826.
Das 50 legislaturas eleitas até hoje, 44 não sofreram nenhum tipo de interrupção.

Além disso, a participação da população nas eleições era uma das maiores da época, abrangendo cerca de 50% dos homens adultos, 11% do total.
Tais cifras só perdiam para as exibidas pelos Estados Unidos.
"A História do Brasil é contada de forma mais miserável do que foi", diz o autor, que pretende no próximo livro tratar da implantação da República.



A sefuir temos outra entrevista de Jorge Caldeira, agora para o jornal Zero Hora.


Zero Hora – O Brasil Colônia era empreendedor e voltado ao mercado interno ou agrário exportador?

Jorge Caldeira – Em História do Brasil com Empreendedores, mostro com dados reunidos por historiadores que a economia colonial brasileira crescia mais do que a de Portugal.
A maior parte da produção de 1800 era voltada para o mercado interno e isso não casa com a explicação mais recorrente de que éramos dependentes do latifúndio agrário exportador (segundo o historiador marxista Caio Prado).
Para se ter uma ideia, entre os séculos 16 e 18, a taxa de crescimento interno era maior do que a de exportações.
A produção de carne, açúcar, etc, gerava um mercado interno mais dinâmico do que o exportador.
Os dados mostram que o centro da economia era a pequena propriedade e o pequeno empreendedor.
Três quartos das unidades produtivas coloniais eram pequenas e, no quarto restante, onde havia escravidão, a maior parte das propriedades tinha entre um e cinco escravos.
Eram pequenos, ao contrário do que dizem sobre o latifúndio exportador.

ZH – Então o brasileiro não é manemolente e sim, empreendedor?

Caldeira – Como é que os manemolentes construíram o grosso da economia e da riqueza?
Trabalhando e empreendendo.
A manemolência está na explicação que nós damos de nós mesmos, não dos dados que aparecem.
Se a principal explicação que temos para a história do país falsifica o nosso problema, a questão atual é entender o brasileiro como empreendedor, o que até agora não entrava na nossa história.

ZH – Quais são os entraves que existem hoje ao empreendedorismo no Brasil?

Caldeira – O principal entrave que existe é entender que o empreendorismo é uma característica da maior parte da sociedade brasileira.
Aquela figura que arrasta carroças e carrega papelão na rua é, tecnicamente, um empreendedor.
Ele recebe não um salário, mas o resultado do seu trabalho.
Ao mesmo tempo, a figura do empreendedor é vista como alguém que não merece a proteção do Estado e da sociedade por, curiosamente, ser associada à imagem do rico.
Mas 99% das empresas no Brasil são pequenas.



Outra entrevista para a Revista de História da Biblioteca Nacional

RH Qual é a obra mais recente?

JC Bom, eu acabei de escrever um livro chamado O banqueiro do sertão.
É a biografia de um padre e banqueiro chamado Guilherme Pompeu de Almeida, que viveu entre 1656 e 1713 numa cidade chamada Araçariguama, então em pleno sertão de São Paulo.
Ele acumulou uma fortuna inicial a partir de uma siderúrgica herdada do pai. Depois juntou isso com a atividade bancária e formou uma grande fortuna. Quando morreu, deixou a maior herança que a ordem dos jesuítas recebeu em todo o Império português. O que pretendo mostrar no livro é a lógica dessa sociedade que se forma aqui em 1600, no sertão, muito mais próxima da cultura tupi do que da cultura portuguesa.
Foi o começo da idéia de que a riqueza redime o homem, que ela pode ser um objetivo na sua vida.
A América era o lugar onde quem estava inserido no mundo feudal, europeu, preso pelas cadeias do Antigo Regime, que tinha que viver a vida inteira na posição em que nasceu, sai e vai construir um destino pelo seu trabalho e pela sua aventura.

RH Pelo visto, o senhor tem atração especial por personagens. Guilherme Pompeu, Diogo Feijó, Noel Rosa... No caso do barão de Mauá, o que ele tinha em comum com o José Bonifácio?

JC Acho que, como José Bonifácio, Mauá estava além do que se enxergava naquele momento, a primeira metade do século XIX.
Ambos tinham confiança na potencialidade do Brasil.
E ambos, de certa forma, vão contra crenças da época e atuais.
A teoria vigente diz que aquele seria um período de recessão imensa, porque se situava entre o fim do ciclo do ouro e o do café.
E Mauá conseguiu ficar muito rico exatamente nesse meio.
Nunca investiu em café, como muitos outros fizeram, mas investiu em um monte de outros negócios importantes que estavam em volta.
Foi colocar a estrada de ferro onde estavam os tropeiros, e não onde estavam as fazendas de café.
Ele tinha uma percepção diferente do Brasil. Neste sentido, tinha alguma coisa a ver com o José Bonifácio.



RH Como surgiu seu interesse por José Bonifácio, especialmente?

JC Em 1999, fui organizar o volume do José Bonifácio de Andrada e Silva para a coleção Formadores do Brasil. Percebi muito depressa que não dava, realmente, para fazer um grande estudo sobre ele com a documentação disponível.

RH Por quê?

JC Porque a documentação sobre o José Bonifácio tem duas características.
Primeira, ele escrevia de modo fragmentado.
É muito bilhete, muita anotação, muito pequeno pensamento.
Segunda, a obra se espalhou por um número muito grande de instituições no mundo inteiro.
Ele passou 43 anos da vida no exterior, e foi deixando documentação em arquivos de Portugal, da França, e um pedaço ainda não pesquisado na Escandinávia.
Então, o que acontece?
Nenhum historiador, até hoje, teve condições de ver toda a obra de José Bonifácio, sequer para fazer uma biografia intelectual.
Então decidi tentar reunir os documentos e torná-los de acesso público e gratuito.

RH Como está o projeto?

JC Já avançou muito. Conseguimos colocar num site 10 mil páginas de documentos.
É o maior número de textos de José Bonifácio que se conseguiu reunir até hoje. É material suficiente para dezenas ou até centenas de teses, e um material quase original. Acho que nenhum biógrafo passado do José Bonifácio teve acesso a um conjunto deste porte. Ainda não é tudo, mas já é um caminho no sentido de permitir que a gente entenda a obra dele.

RH Isso significa que a obra de José Bonifácio ainda está por ser descoberta?

JC Exatamente. Oito anos depois de ter começado esse trabalho, percebo que o José Bonifácio é ainda uma pessoa a ser conhecida. Para juntar esta documentação que juntamos, só o pedaço que está no site, foram 50 pessoas trabalhando durante três anos. E não é um material que estivesse ao alcance de uma pessoa comum. A última biografia do José Bonifácio foi escrita por Otávio Tarquínio em 1943. Quer dizer, faz 64 anos. Não é por acaso que desde então nada se acrescentou a ela.

RH Onde está o material inédito mais importante?

JC O período português é, certamente, o mais importante, porque entre 1800 e 1819 José Bonifácio ocupou altos cargos no governo de Portugal e escrevia bastante.
É bem provável, portanto, que exista em Portugal uma documentação inédita relevante.
Em outros países também deve haver, pois ele era membro de dez ou doze sociedades científicas européias na época, com as quais se correspondia.
Mas é preciso ir lá, levantar, localizar os arquivos dessas sociedades.
A gente está pegando alguma coisa ainda na França.

RH Documentos do tempo do exílio...

JC É, do tempo do exílio; nunca foram publicados, estão no Arquivo Nacional da França. São documentos da polícia francesa – o dossiê José Bonifácio da polícia francesa, de 1823 a 1829. Tem direitinho o que ele fez, data a data; é uma cronologia clara, porque os documentos foram guardados em ordem. Melhora muito a pesquisa, porque corresponde a um período em que muito pouco se sabia sobre a vida de José Bonifácio.

RH O senhor acha que essas sociedades científicas guardam também uma documentação importante?

JC Ah, sim, é a face do José Bonifácio que os brasileiros desconhecem. Porque todo mundo vê o José Bonifácio Patriarca da Independência, mas essa parte dele como cientista é pouco conhecida. A figura de Patriarca da Independência corresponde a dois anos de vida de um homem que viveu entre 1763 a 1838 –, quer dizer, é muito pouco. Ele estava formado e preparado para aquele momento de um jeito que a gente ainda hoje, pelo que se sabe, não pode descrever. Eu, pelo menos, que estou há oito anos estudando José Bonifácio, não ousaria dizer que sei. Há muitos buracos na vida dele ainda a serem cobertos.

RH O que se pode dizer de concreto sobre ele a partir do que já foi levantado?

JC Que ele tinha uma formação renascentista, se a gente pode dizer assim. Tinha uma formação muito completa, em muitas áreas do conhecimento. A especialidade dele era Mineralogia, mas se formou em Filosofia, em Direito, e, além disso, entendia de política.
Conheceu o mundo inteiro, esteve na Revolução Francesa, em 1789, assistiu àquilo ao vivo, conheceu os dirigentes, falou com eles. Tinha contatos políticos.
A viagem dele não era só para estudar Mineralogia, mas para ser também um representante de Portugal.
Conheceu as cortes, conheceu os dirigentes do mundo inteiro na época, além de conhecer as minas.
Enfim, falava, traduzia grego, traduzia latim...

RH E sobre sua vida privada?

JC Não há novidade, quase tudo já está nas biografias: teve várias amantes e vários filhos fora do casamento; era um homem animado, alegre, dançarino, falastrão...

RH Dançarino?

JC É, dançava o lundu em casa.

RH Há documentos sobre isso?

JC Sobre a vida privada dele? Há. Bilhetes pedindo para um amigo ver se certo rapaz em Paris poderia mesmo ser seu filho, coisas desse gênero. Mas isso já é coisa conhecida. Acho que a menos conhecida é essa documentação francesa de que falei.

RH Qual é a recepção do site Obra Bonifácio?

JC Em menos de um ano já recebeu 42 mil visitantes, que é um número bastante expressivo. Destes, 23% são de fora do Brasil, principalmente de Portugal (17%), seguido dos Estados Unidos (entre 4% e 5%).
Há interessados até no Japão.

RH Será que isso confirma que José Bonifácio era de fato um personagem cosmopolita?

JC Era uma grande figura cosmopolita.
Se você compará-lo a qualquer um dos pais da pátria americanos, os estadistas que estavam naquele momento lidando com o problema de criar sistemas políticos a partir de princípios racionais do Iluminismo, era, sem dúvida, um dos mais preparados.
Ele conhecia a fundo os principais pensadores iluministas franceses e conhecia bem os ingleses. Sabia das experiências que estavam sendo feitas no mundo inteiro quanto à aplicação dos princípios iluministas no governo, e ele fez isso aqui no Brasil. Teve esse papel central, de institucionalizar o Brasil.
O que era a Independência para ele?
Era fundar uma nação cujas leis seguiriam os princípios iluministas. Foi isso o que ele fez.

RH A experiência norte-americana não influenciou mais José Bonifácio do que aquilo que ele viu, por exemplo, na Europa?

JC Mais ou menos. José Bonifácio era antifederalista ao extremo, ao contrário dos americanos, que eram radicalmente federalistas no começo.
Ele queria um Executivo funcionando com comando unitário sobre todo o território, sem fragmentação. Já os americanos achavam que quanto menos o Estado central estivesse próximo do cidadão, melhor era o regime.

RH Ele também queria a abolição, ao contrário dos americanos...

JC Não só a abolição, mas a transformação do escravo em cidadão, em cidadão probo, e o senhor, que era violento e ocioso, em trabalhador.
Neste sentido, ele era muito mais avançado do que os americanos. E olhe que José Bonifácio chegou aqui muito mais como um burocrata que serviu ao rei, em Portugal, em cargos de direção, do que alguém que estava vivendo o que acontecia no Brasil. Mas ele, muito rapidamente, começou a adaptar as idéias políticas dentro dos princípios iluministas.

RH Aplicar esses princípios a uma ex-colônia dos trópicos devia ser uma tarefa difícil, não?

JC É, havia outras pessoas que liam os teóricos franceses ou americanos e tentavam copiar o possível para o Brasil. Mas com José Bonifácio foi diferente. Ele tinha um conhecimento bastante profundo dos costumes dos brasileiros, coisa rara na época. Ele achava que as instituições que ele estava criando tinham que ser adequadas aos costumes já existentes no Brasil. Tinha uma visão muito peculiar de quais eram os costumes fundamentais que poderiam sustentar um país independente.
Basicamente, o que ele adotou naquela época foi que o Brasil era um país que tinha distâncias econômicas e sociais imensas por causa da escravidão.

RH Ele já apontava essas distâncias como um problema para a nação?

JC Sim, e um problema, aliás, que até hoje não foi resolvido. Na percepção de José Bonifácio, esta era uma característica central da sociedade brasileira, mas, ao mesmo tempo, ele achava que tinha um contraponto para isso, que era a facilidade com que pessoas de culturas e etnias diferentes mesclavam-se entre si.
E considerava isso, a miscigenação, um instrumento fundamental para construir liberdade civil e igualdade social. As leis não deveriam proibir isso, deveriam incentivar, na medida do possível esse costume, para que ele, progredindo, criasse uma nação democrática, com uma sociedade civil forte.

RH Mas isso tinha a ver com aquelas teorias de “embranquecimento”?

JC Não, não, ele falava de “amalgamento”.
“É tempo de irmos nos amalgamando”, dizia.
A idéia era misturar o diverso para formar uma liga única. Amalgamento era uma metáfora de mineralogista. José Bonifácio achava que o que resultaria na unidade nacional era exatamente a dissolução das idéias de raça, de diferenças culturais etc. Então, “serão igualmente brasileiros os adoradores do sol, os cristãos, índios e negros”.
Não era, por sinal, o que os iluministas achavam.
Ao contrário, Rousseau dizia que nos trópicos não podia haver democracia por causa dos negros, e coisas desse gênero.
Os pais da pátria americanos montaram uma nação onde os negros livres não tinham direitos civis. José Bonifácio pensava diferente.

RH O senhor estava pensando em Thomas Jefferson, não?

JC Jefferson era traficante de escravos, tinha oito filhos com uma escrava que era mulata e sete deles foram escravos que ele só libertou quando ia morrer. Então você vê que o José Bonifácio era radicalmente mais avançado do que os pares dele – franceses, ingleses, portugueses etc.

RH Um pensamento mais original...

JC Muito mais original. E é difícil entender o fundamento disso num homem que, no momento em que fez a proposição, havia passado 37 anos no exterior.
Em geral, o brasileiro que vai para a Europa volta cheio de preconceitos em relação ao Brasil.

RH O que muda no pensamento de José Bonifácio quando ele retorna ao Brasil, em 1819?

JC Há documentos pessoais que relatam a emoção dele de ver de novo o Brasil, de ver de novo a chuva em São Paulo.
Ele descreve uma viagem que fez com o irmão até Araçoiaba da Serra, no interior paulista, para estudar Mineralogia.
Voltou mais observador do que era peculiar no comportamento brasileiro.
Interessante foi a forma como ele concebeu as instituições que poderiam sustentar a nova nação.
Até as vésperas da Independência, ele era contra o Congresso e o Parlamento.
Ele tinha visto a Revolução Francesa e considerava essas instituições elementos de turbulência.
Depois mudou de idéia.
Chegou rapidamente à conclusão de que o Brasil precisava de um Parlamento, coisa que ele nunca tinha achado boa em 50 anos de vida.

RH Foi por isso que ele se tornou também tão incompreensível para os seus pares políticos, como o Gonçalves Ledo?

JC É, era um personagem muito complexo.
Embora pregasse a moderação e a negociação, não era a pessoa mais adequada para aplicar na prática as próprias idéias. Era muito orgulhoso e se meteu em muitas brigas políticas; não era tão tolerante quanto a gente imagina que deveria ser alguém que vem ao Parlamento e precisa escutar os outros para acomodar as coisas...
Era muito firme nas suas posições. Mas é preciso lembrar também que havia um sentido de urgência muito grande naquele momento.
Junto com a negociação política, ele tinha de comandar uma guerra contra Portugal: comprar armas, expulsar os portugueses que estavam em Salvador, organizar a expedição do Cochrane...
Porque a Independência não foi uma coisa que veio de uma vez só.
O 7 de setembro só valeu imediatamente para São Paulo, Rio e Minas Gerais.

RH Olhando sua carreira, parece que o senhor já faz jus à condição de historiador.

JC Sou apenas um escritor. Acho que conhecer História não é só um problema da academia, é um problema de todo cidadão.
Ao contrário de outras histórias, como a história francesa, por exemplo, a História do Brasil ainda está por ser escrita no básico.
É por isso que uma revista de divulgação como esta é fundamental. Só a pesquisa acadêmica não resolve a questão do conhecimento básico de História para a cidadania, para todo cidadão.





MAUA - O EMPRESARIO DO IMPERIO
JORGE CALDEIRA
Sinopse


Pioneirismo, guerras, intrigas, reis e escroques - a carreira do visconde de Mauá (1813-1889) teve de tudo.
Para montar a primeira indústria (um grande estaleiro e uma fundição em Niterói), a primeira estrada de ferro e o primeiro banco a operar em grande escala no Brasil, ele teve de brigar contra uma sociedade provinciana, que considerava o feitor de escravos como o melhor gerente de recursos humanos.
Quando expandiu seus negócios em escala planetária, com dezessete empresas em seis países, aí sim vieram os grandes adversários.
Banqueiros internacionais, ditadores latinos, políticos de alto coturno e figuras da sociedade passaram a fazer parte da luta diária do visconde, numa história que se confunde com a do próprio nascimento de um país chamado Brasil.




A Nação Mercantilista
Ensaio sobre o Brasil
Jorge Caldeira


http://books.google.com.br/books?id=ga3frlFrOOIC&printsec=frontcover&dq=%22Jorge+Caldeira%22&source=bl&ots=gmVdDcBKXM&sig=5cDs4guh10tt556KvlAzIe_2OOY&hl=pt-BR&ei=aqj9S9vkN4OduAejma2BBg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=3&ved=0CAwQ6AEwAjge#v=onepage&q&f=false






O Banqueiro do Sertão
Jorge Caldeira


Padre, matuto e magnata.
A história de um personagem e de toda uma
época num monumental livro de Jorge Caldeira
sobre a São Paulo do século XVII
Roberto Pompeu de Toledo
Reproduzem-se nesta página exemplares da iconografia de época que ilustra O Banqueiro do Sertão
Santana de Parnaíba é uma cidade histórica nos arredores de São Paulo, berço de bandeirantes, convenientemente situada à beira do Rio Tietê e, em seus anos heróicos, porta dos sertões por onde se enfiavam os paulistas em busca de índios para escravizar e metais para, como diziam, "remediar a pobreza".
Em meio ao casario com janelinhas que dão direto para as calçadas estreitas ainda sobrevive uma ou outra das paredes de taipa dos primeiros tempos. No começo do século XVII, aurora da epopéia bandeirantista, a próxima cidade a oeste era Assunção do Paraguai.
Entre as duas, o espaço imenso, ignoto e tentador. Uma das principais ruas de Santana de Parnaíba tem o nome do padre Guilherme Pompeu de Almeida (1656-1713).
Este, ao contrário dos vizinhos, não saiu do lugar. Ficou parado. Mas, mesmo parado, descreveu uma legenda que ainda hoje é motivo de assombro.

Ete é o mundo dos jesuítas e da indiada, do ouro e da prata, das santas proclamações de intenções e das perversidades inomináveis, das ambições desencontradas das coroas da Espanha e de Portugal, dos broncos sertanistas analfabetos e de suas obedientes mulheres nativas ou mestiças.
Esse mundo revive nas 1.040 páginas, distribuídas em dois volumes e guardadas numa caixa, de O Banqueiro do Sertão (Mameluco; R$ 170,00), o novo trabalho de Jorge Caldeira.
O Banqueiro do Sertão (com os subtítulos Mulheres no Caminho da Prata, para o primeiro volume, e Padre Guilherme Pompeu de Almeida, para o segundo) é um portento.
Raras vezes, talvez nunca, o mundo da São Paulo do século XVII, e de quebra de todo o sul do que viria a ser o Brasil, mais o espaço em que se moviam os embriões das nações hoje distribuídas na metade meridional da América do Sul, foi tratado com tal abrangência e perspicácia.
O fio condutor é a história do padre Pompeu, personagem que possuía em Araçariguama, nas matas de Santana de Parnaíba, uma propriedade murada como fortaleza medieval na qual edificou mansão como nenhuma outra, naquele tempo e lugar, e uma capela devotada a Nossa Senhora da Conceição.

O primeiro historiador paulista, Pedro Taques de Almeida Pais Leme, escreveu, no século XVIII, que, para abrigar os hóspedes, a casa do padre Pompeu tinha 100 camas, cada uma com uma "bacia de prata" embaixo.
A mesa era farta. "Todos os dias se cozia o pão", prossegue o mesmo autor, "de sorte que para o seguinte já não servia o que tinha sobrado do antecedente."
Nesse tempo os paulistas mais notáveis eram chamados de "potentados em arcos", quer dizer, senhores da guerra com numerosa tropa indígena sob seu comando.
O padre Pompeu era um potentado de outra sorte. Um potentado-potentado. Um magnata. Espécime de ainda maior relevo quando se tem em conta a precariedade e o isolamento da sociedade paulista da época.

As 100 camas e as 100 bacias de prata para as necessidades noturnas dos hóspedes se devem provavelmente à extasiada fantasia dos pósteros. Mas que o padre foi um magnata, isso foi, e o livro de Caldeira o prova.
A história de sua fortuna começa com o pai, também chamado Guilherme Pompeu de Almeida, portador do título de "capitão" pelo cargo de capitão-mor de Santana de Parnaíba.
O primeiro Pompeu estabeleceu-se junto ao Morro da Voturuna, onde havia uma mina de ferro, e ali criou uma fundição. Nada como os anzóis, as facas e as machadinhas que saíam de sua forja para negociar com os índios no mato. Mas o pai também era fixo, como o filho. Seu negócio não era sair pelos sertões, mas fornecer às expedições que o faziam os materiais de que necessitavam, e financiá-las. A certa altura dessa atividade, começa a ser remunerado com o mais precioso dos pagamentos da época – a prata. Isso significava livrar-se do escambo que era a regra na tosca economia paulista e avançar no rumo da riqueza monetária.

A explicação de como o pai do padre teve acesso à prata é um dos pontos altos da pesquisa de Caldeira.
O livro revela um tráfego intenso, para a época, e para o que se imagina da época, entre São Paulo e Assunção.
No início do século XVII, Assunção já era um centro de relativa importância – "sede de governo, sede de bispado, produtora de vinho, açúcar, erva-mate e gado", escreve Caldeira.
São Paulo era um vilarejo. Assunção crescia como abastecedora da jóia da coroa de possessões espanholas na América do Sul – Potosi, que em 1600 já tinha 160.000 moradores em torno de suas minas de prata.
Os paulistas começam a ciscar na área na esperança de alguma sobra.
Mas havia razões também para os paraguaios demandarem São Paulo. Dali desciam ao litoral atlântico e viajavam mais rapidamente à Europa. O trânsito entre os dois lados era facilitado pelo fato de, entre 1580 e 1640, as coroas de Portugal e Espanha terem se mantido unificadas.

São Paulo e o Paraguai tinham em comum o fato de serem duas comunidades de mistura entre europeus e índios, com predominância da cultura indígena, e meio que deixadas, as duas, aos próprios cuidados, sem grande interferência das metrópoles.
Logo, porém, isso começa a mudar no lado paraguaio.
Os jesuítas espanhóis, com forte respaldo de Madri, exercem crescente autoridade sobre a sociedade local. Principalmente, reservam-se o domínio dos aldeamentos indígenas. Sem contar com os escravos índios, a economia paraguaia definha.
Ocorre então um fenômeno que, até o livro de Caldeira, era pouco conhecido – a transferência de vilas paraguaias inteiras para a região de São Paulo.
Foi o caso de Vila Rica do Espírito Santo, localizada onde é hoje o Mato Grosso, em 1676.
O episódio passou para a história como mais uma das freqüentes razias dos bandeirantes, que teriam destruído o povoado e seqüestrado os habitantes. Foi assim descrito pelas autoridades espanholas.
O livro mostra que na verdade a transferência de Vila Rica e outras povoações foi pacífica e consentida. Mostra também quanto a má fama dos paulistas, descritos como mamelucos selvagens e hereges, se deveu à propaganda de autoridades e jesuítas espanhóis.
Pintá-los piores do que já eram, ou atribuir-lhes culpas que não tinham, virou, ao longo do século, explicação fácil e conveniente para certas situações escusas.
A transferência de populações explica a origem espanhola, via Paraguai, de muitas famílias paulistas.

Quem comandou a expedição a Vila Rica, conduzindo na volta 5.000 pessoas a Santana de Parnaíba, foi Francisco Pedroso Xavier.
Ele era cunhado do primeiro Guilherme Pompeu. Logo depois, Pompeu levanta em sua propriedade de Voturuna uma capela, devotada à mesma Nossa Senhora da Conceição que viria a ser cultuada mais tarde também na capela do filho, em Araçariguama. A capela de Voturuna tinha um retábulo cujo preciosismo a distinguia da tosca arte paulista da época. Alguns toques indicam influência espanhola.
Caldeira chega à conclusão de que, na mesma expedição, Pedroso Xavier trouxe uma equipe de artesãos formados na escola espanhola. Eles seriam os responsáveis pelo retábulo de Voturuna e de mais três ou quatro na região de São Paulo, inclusive os ainda em bom estado, e fáceis de visitar, em São Roque e Embu.*

Guilherme Pompeu de Almeida acumulou recursos suficientes para proporcionar o melhor ao filho. A escolha desse "melhor" recaiu em algo incomum para os paulistas de então – a educação.
Educar-se, explica Caldeira, equivalia na época a preparar-se para ser padre. O jovem Guilherme fez os primeiros estudos no colégio dos jesuítas de São Paulo. Em seguida, classificou-se para o único curso superior no Brasil – o colégio de formação de jesuítas de Salvador. Ei-lo agora na capital da colônia, convivendo com a elite que circulava na Cidade Alta, inclusive o governador-geral.
Ele consegue o mais alto grau, o de doutor em teologia, o que lhe dava direito a usar capelo com borlas brancas e desfilar a cavalo acompanhado de um pajem. Surpreendentemente, porém, deixa nesse momento a ordem, e torna-se modesto padre secular.
Por quê?
Por uma combinação de documento e deduções, Caldeira chega à conclusão de que o moço Guilherme teve de deixar a Companhia de Jesus porque incorrera no pecado da carne. Ele tinha um caso, provavelmente com uma índia, e daí resultara uma filha, que nunca ocultou, Inês de Lima.
Como padre secular, ninguém o incomodaria por isso. Já entre os jesuítas vigorava marcação apertada contra similares derrapagens.
De volta a Santana, ele se contentaria, pelo resto da vida, em rezar a missa para os matutos do lugar. Que diferença em relação às pompas do mundo que poderia ter conhecido, como doutor da mais poderosa ordem do tempo, talvez até com acolhida nas cortes européias, a exemplo de seu contemporâneo Antônio Vieira.
Restava-lhe a opção de, como o pai, enriquecer.

O livro de Caldeira consegue ser, entre outras coisas, uma biografia. Não é pouca proeza, em se tratando de um período em que a documentação pessoal é quase inexistente.
O padre Pompeu não sairá de Santana e arredores senão, documentadamente, uma vez, para uma romaria a Iguape, no Litoral Sul de São Paulo – por coincidência, além de centro de peregrinação, com sua miraculosa imagem do Bom Jesus, a porta de uma região aurífera que abrangia Paranaguá e os campos de Curitiba.
Ou não seria coincidência?
Por essa época – estamos já na década de 1690 –, o ouro começava a fazer parte da vida do padre. Seus borrões registram entradas vultosas do metal. Ele continua no mesmo ramo básico do pai – o de financiar as expedições dos sertanistas, quase sempre parentes.
Só que agora essas expedições costumam embrenhar-se lá para os lados da Serra de Taubaté, no rumo de uma área que começa a ser chamada de Minas Gerais, onde enfim desponta a riqueza com que os exploradores destes Brasis sempre sonharam mas que até então os iludira.
O padre mete-se em sofisticadas operações, em que importa artigos de Lisboa, ou escravos da África, para revenda na região das minas.
Pagava os fornecedores com ouro e recebia dos clientes também em ouro.
Caldeira mostra que, ao contrário do pai, ele era um investidor agressivo.
O rendimento alcançava níveis estratosféricos. Numa operação em que mandou comprar gado em Curitiba e remeteu-o para as Minas, obteve lucro de 340% em um ano e meio.

Os muros que protegiam a propriedade de Araçariguama convinham para quem operava com ouro e, em algum lugar, precisava guardá-lo.
Nos registros do padre, ano a ano, ele listava os "negros que têm espingarda em seu poder". Por "negros" se nomeavam tanto os africanos como os índios escravizados.
Se lhes eram confiadas espingardas, é porque tinham a função de guardas. Os guardas e os muros garantiam não só o próprio ouro, mas o dos sócios e parentes que a ele confiavam suas reservas, o que completa a função de banqueiro do doutor em teologia do sertão.
O esquema de segurança também vinha a calhar para certos encontros discretos e operações à margem do insaciável Fisco português. Caldeira chega a suspeitar que uma fundição clandestina operasse no local.

O enterro do padre, em fevereiro de 1713, revestiu-se de pompa jamais vista pelos paulistas.
Vieram os chefes das principais famílias de São Paulo e os religiosos de todas as ordens.
O caixão era revestido de veludo e coberto de prata. Uma primeira missa foi rezada na própria capela de Araçariguama. Daí o cortejo percorreu os 20 quilômetros até o centro de Santana, e, depois de outra missa, o corpo foi provisoriamente enterrado na matriz. Quando a carne se decompôs, novo cortejo transportou os ossos até São Paulo. Foram então abrigados sob o altar principal da igreja dos jesuítas, com inscrição em latim a identificá-los. O padre investira pesado na salvação de sua alma. Deixara encomendadas missas até em Lisboa, e pagara bem. Aos jesuítas, fez herdeiros de sua fortuna. O lugar nobre que com isso garantiu para os ossos não tivera por motivação a vulgar vaidade, mas um posto que, sendo o mais visível possível, fizesse as pessoas se lembrar dele e rezar em sua intenção.
Considerando-se o longo prazo, no entanto, foi um investimento que, ao contrário dos que realizava em vida, teve resultados magros.
A igreja dos jesuítas de São Paulo acabaria por desabar, e seus ossos foram parar sabe-se lá onde.
Da fortificada propriedade em Araçariguama só restam vestígios. Para a memória de seus feitos, se é que isso lhe serve de consolo, ele ganha agora o livro de Jorge Caldeira.

* A capela de Voturuna também está preservada, mas se encontra numa propriedade particular, e os donos não gostam de visitas.

TRECHO

"Na ermida em pleno sertão, ao lado de uma indústria de ferro, um padre secular – doutor em teologia, além de pai de uma filha com índia – começou a rezar suas missas para familiares, índios e caboclos num altar que reunia a influência de dois continentes e três civilizações. Longe de ser exceção num ermo sem movimento, todo este conjunto poderia ser visto como o símbolo de uma nova espécie de vida social, um modo no qual a novidade, a presença do outro e do distante era parte essencial da vida. Ao mesmo tempo, pensada em termos econômicos, a capela simbolizava o vasto espaço de abrangência dos negócios do capitão Guilherme Pompeu de Almeida, o homem que quase nunca deixava a vila de homens errantes para onde se mudara."

Postado por ARTIGOS às 8:39 AM
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O sentido do empreendedorismo.
Jorge Caldeira contesta a ideia de "sentido da colonização", central na obra de Caio Prado Júnior, e mostra que no Brasil Colônia o mercado interno pesava mais que o latifúndio exportador

Oscar Pilagallo

O novo livro de Jorge Caldeira é um chute no calcanhar de aquiles de Caio Prado Júnior, considerado o precursor da interpretação marxista da história do Brasil.
O cientista político faz, em "História do Brasil com Empreendedores" (Mameluco, 336 págs., R$ 49), uma das críticas mais contundentes à visão de Caio Prado sobre o Brasil colonial, segundo a qual o modelo exportador da época, baseado no latifúndio, sufocou o mercado interno, colocando a futura nação na rota do subdesenvolvimento.

Caldeira sustenta, baseado em trabalhos historiográficos das últimas décadas, que o mercado interno na colônia não apenas existia como era mais importante que o externo, sendo responsável por 84% da economia (a mesma ordem de grandeza registrada atualmente).

Como tal realidade teria escapado àquele que, ao lado de Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre, é considerado um dos maiores intérpretes do Brasil?
Um motivo, óbvio, é que no início da década de 30, quando lançou "Evolução Política do Brasil", em que emprega o conceito de latifúndio para explicar o atraso do país, Caio Prado não tinha à disposição os estudos usados por Caldeira.
Outro motivo, menos evidente e mais polêmico, é que sua ferramenta de análise seria inadequada e defeituosa .
[Obs. Essa ferramenta defeituosa é a ideologia cega, o marxismo.]

Jorge Caldeira avalia que a explicação de Caio Prado para a origem das desigualdades e da pobreza do Brasil ainda é "largamente dominante".
Talvez, mas bem menos do que foi até os anos 60. O próprio autor cita a obra do sociólogo Fernando Henrique Cardoso, que identificou um mercado interno na colônia e lhe atribuiu papel fundamental para a compreensão da realidade econômica do período.
Mais tarde, outros historiadores, como Carlos Nelson Coutinho, José Carlos Reis e Pedro Puntoni, apontaram a mesma falha na descrição de Caio Prado.
E até obras de síntese, destinadas a estudantes secundaristas, como "História do Brasil", de Boris Fausto, registram as críticas à sua interpretação.

Caldeira, no entanto, dá um passo além.
Não só ataca a construção ideológica de Caio Prado como põe em xeque o marxismo do autor.
Caio Prado é tido mais como intuitivo do que como rigoroso no uso da metodologia marxista, e Caldeira cita vários autores de esquerda que fazem reparos dessa natureza à sua obra.
Mas ninguém, até agora, havia apontado a influência do pensamento conservador em sua análise, que teria derivado do convívio com as ideias de Oliveira Vianna, um reacionário empedernido.

A aproximação é tão inimaginável que Jorge Caldeira demorou dez anos e cinco versões para formular sua avaliação.
O autor junta as evidências.
Para começar, quando escreveu "Evolução Política do Brasil", aos 26 anos, o bem-nascido Caio Prado era recém-egresso do Partido Democrático, que defendia os interesses de uma elite paulista, e mal conhecia os textos mais básicos de Marx, apesar de já militar no Partido Comunista Brasileiro.
Além disso, sua formação intelectual refletia o contato com um grupo de intelectuais conservadores liderado por seu primo Paulo Prado, que em 1922 editara "Evolução do Povo Brasileiro", de Vianna.

Esses fatos são mais ou menos conhecidos.
A polêmica começa quando Caldeira sugere que foi esse livro de Vianna - e não a obra de Marx - a verdadeira matriz do livro de estreia de Caio Prado.
Em "A Nação Mercantilista", de 1999, Caldeira já notara alguma semelhança entre os dois livros, mas tratou a aproximação da visão de Caio Prado da de seu antípoda intelectual como curiosidade.
Agora, em "História do Brasil com Empreendedores", o autor coteja trechos que indicam uma possível genealogia conservadora para uma das mais resistentes concepções da esquerda brasileira.
Dez anos antes de Caio Prado afirmar que "a economia agrária colonial sempre teve por tipo a grande exploração rural", Vianna já havia dito: "Temos sido desde o início um povo de latifundiários".
Os exemplos de coincidências se multiplicam.

O mundo colonial descrito por Caldeira é bem mais complexo que o esquemático modelo latifundiário de Caio Prado.
Nele, uma população majoritária de homens livres - índios, negros alforriados, artesãos e pequenos proprietários - movimentava um vigoroso mercado interno.
Com a escassez de moeda, esses agentes econômicos construíam riquezas na base de trocas e do fiado. Caldeira retira de seu livro anterior, "O Banqueiro do Sertão", um dos melhores exemplos de empreendedor, o padre Guilherme Pompeu de Almeida, que enriqueceu produzindo artefatos de ferro.

O autor afirma que a crítica a Caio Prado não tem "objetivo ideológico", e não há por que duvidar.
Mas o fato é que ele contrapõe o "sentido da colonização" - que é o da exploração comercial da colônia em proveito da metrópole - a um "sentido do empreendedorismo", expressão que não utiliza, mas que poderia resumir sua tese: a de que o Brasil teve uma economia forte durante a colônia e que as explicações pelo atraso devem ser procuradas no século XIX, quando a orientação mercantilista retardou o surgimento do capitalismo.

"História do Brasil com Empreendedores" é construído sobre uma ideia presente em vários livros do autor. Embora essa não seja uma obra que se preste à narrativa, como foram as biografias "Mauá, Empresário do Império" e "O Banqueiro do Sertão", a consistência dos argumentos, o domínio do amplo repertório de referências, que remonta a Aristóteles, o convite à polêmica, e um texto atilado, que passa ao largo do ranço acadêmico, tudo isso faz fluir a leitura.

Historiador tarimbado, Jorge Caldeira tem plena consciência dos limites do seu trabalho. Sobre a "relação literária" entre Vianna e Caio Prado tem o cuidado de afirmar que "existe a necessidade de esmiuçar mais" os pontos em comum das duas obras.
Sobre a importância do mercado interno, ressalva que o livro "não busca uma explicação acabada, não traz uma rede explicativa ordenada numa teoria" porque "a imensa maioria dos estudos existentes [...] não possui até agora consistência suficiente [...]".

Para o autor, a conceituação de Caio Prado impede a visão do mercado interno colonial.
"É como tentar estudar bactérias com um telescópio", diz.
Caldeira trabalha com um microscópio.
Mas talvez por isso mesmo o organismo como um todo não seja discernível. A imagem inteira emergirá com mais pesquisa. "História do Brasil com Empreendedores" faz a sua parte e, no que concerne às perspectivas da pesquisa histórica, é mais do que um ponto de chegada: é um ponto de partida.


***

O trabalho de Jorge Caldeira tem vários pontos de destaque, dentre eles:

1 - 70% da produção no Brasil colônia era feita por pessoas livres.

2 - existia um grande mercado interno no Brasil colônia, feito por empreendedores (estrangeiros, índios, mestiços) trabalhando em pequenas propriedades em regime familiar.

3 - a exportação feita por latifundiários não era grande, e tb não era vendida a preço barato.

4 - a economia no Brasil colônia em 1800 era maior do que a de Portugal.

5 - a economia do Brasil em 1800 era igual a economia dos Estados Unidos.

6 - da mineração de prata e ouro 4/5 do minério extraído - ficava no Brasil - apenas 1/5 (o chamado "quinto") ia para Portugal.

7 - no Brasil nunca existiu liberalismo econômico (ou "capitalismo" na linguagem marxista). A economia do Brasil colônia era mercantilista e assim permaneceu - conservadora - durante o império e na república velha.

8 - o Brasil parou de crescer no século XIX, a causa segundo Caldeira, foi a exclusão dos empreendedores do poder, o que bloqueou a implantação do liberalismo no Brasil.

9 - nos Estados Unidos os empreendedores foram incentivados e 100 anos depois (1900) a economia norte-americana era 10 vezes maior que a do Brasil.

10 - o criador das mentiras sobre a história do Brasil colônia foi um "historiador" marxista, Caio Prado Jr., que usou para compor a mentira os escritos de um conservador brasileiro fiel ao "antigo regime", tais mentiras criadas pelo marxista Caio Prado são dominantes atualmente no estudo de história no Brasil.

***

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3 comentários:

  1. além do texto Quais as referências ? Ta cheio de picareta fazendo revisionismo histórico lendo só matéria da veja.
    Cadê as documentos...

    Parece mais história do ponto de vista da elite burguesa.... certamente esse revisionismo tem intenção de negar todos os genocídios que aconteceram no território brasileiro em nome de um sistema desigual que ainda se perpetua e novas facetas ideológicas, o fim da história já foi provado ser mais uma estratéia de lavagem cerebral imposta pelas elites dominantes,negar a história ...que feio.

    Foi Diogo Mainard que disse foi?

    ResponderExcluir
  2. A resolvir pesquisar quem questiona isso olha só o que descobrir imaginei que esse revisionismo tem que partir pseudo-analisista do Cebrap. Braço ideológico de um grupo que nunca mais vai voltar ao poder nesse país.

    Nosso país tem que se libertar dessa dicotomia ideolóca da Perseu Abramo e do CEBRAP...negar essas duas correntes....


    Fora PT e PSDB...rumo a terceira via.

    ResponderExcluir


  3. Marco,

    Tenho a impressão q vc só leu o título...
    As referências estão nos livros do autor, obviamente.

    Os livros de Jorge Caldeira, iniciando pelo mais recente são:

    História do Brasil com Empreendedores (Mameluco, 2009),

    Antes ele escreveu:

    Mauá: Empresário do Império,

    A Nação Mercantilista
    Ensaio sobre o Brasil

    O Banqueiro do Sertão

    .

    Quanto a "revisionismo", Jorge Caldeira não faz revisionismo, quem faz revisionismo é o marxismo.
    Jorge Caldeira é um pesquisador sem ideologia.


    Os "genocídios" que segundo vc existiram não são a história do Brasil, são episódios da história do Brasil.
    A história do Brasil é vasta, tem 500 anos, e não se resume na doença ideológica daqueles que são os "protetores dos fracos e favelados".

    Quanto a merda petirta ou psdblista, ou qq outra, para mim são lixo, não tenho ideologia política ou de qq outro tipo.

    Valeu pelos comentários.

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